Publicado dia 05/05/2025 às 17h20
No contexto da Teologia, a
imagem de Deus (Imago Dei, no latim) está presente em todos os seres humanos,
conforme diz o texto de Gênesis 1: 26,27. Segundo definição dada por Russel
Norman Chaplin e João Marques Bentes, na “Enciclopédia de Bíblia Teologia e
Filosofia”, as palavras no hebraico e no grego não ajudam muito a entender o
significado exato da expressão “imagem de Deus”. Diz, por exemplo, que quando a
palavra grega para imagem, eikon, se refere a um ídolo, “necessariamente
significa uma representação de acordo com a qual a imagem não participa da
divindade representada. Mas, quando Cristo é chamado de eikon de Deus (ver
Colossenses 1.15), é difícil supor que isso não envolva uma participação real
na natureza de Deus.” (1995. 39 ed. Editora Candeia. Vol 3. p. 245).
Ainda conforme Chaplin e
Bentes, para alguns teólogos trinitaristas a expressão “imagem de Deus” se
refere a uma natureza triúna “composta de corpo físico (a parte material), de
alma (propriedades de consciência do mundo, mas não inclinadas para as coisas
divinas) e de espírito (natureza espiritual, semelhante a Deus)”. No final da
primeira carta aos Tessalonicenses, o Ap Paulo diz: “E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Ts
5.23). No livro “Mitos e Neurose”, Paul Tournier usa a figura de um triângulo
equilátero, “cujas três bissetrizes delimitam três pequenos triângulos
isósceles que representam respectivamente o corpo A, o psiquismo B e a mente,
C.”. (2002. Ed Ultimato. p. 57).
O interessante dessa
explicação dada por Paul Tournier é a presença da dimensão espiritual tanto no
corpo (físico), quanto no psiquismo (emoções) e na mente (racionalidade). O que
significa que tentar eliminar qualquer uma dessas três dimensões implica no
comprometimento do corpo como um todo. Mas, não é isso o que em geral acontece
em relação à dimensão psíquica, por exemplo?
Quantas vezes você já ouviu
expressões tais como: “quem confia em Deus não pode sentir medo, ansiedade,
angústia. Não pode lamentar os revezes da vida. Não pode chorar. Não pode ter
desejos impuros.”? Será que a fé em Deus “lobotomiza” o crente, transformando-o
em um ser alienado? Será que a fé em Deus paradoxalmente torna o ser humano em
um ser desumano? Não é isso o que vemos na Bíblia. É só ler com atenção a
história de Jó, Davi, Eli, Jeremias, Paulo, Pedro e de tantos outros.
No livro “Instrumentos nas
mãos do Redentor”, Paul David Tripp diz que: “A triste realidade é que muitos
de nós simplesmente não somos bíblicos na maneira que usamos a Bíblia! Ser
bíblico não significa meramente citar palavras contidas em suas páginas. Ser
verdadeiramente bíblico significa que o meu conselho deve refletir aquilo
acerca do qual a Bíblia toda diz respeito.” (2009. Ed Nutra Publicações. p.
51). Na Bíblia está claro que a imagem de Deus não anula a nossa dimensão
psíquica, ou seja, as nossas emoções e desejos. A fé em Deus, através de Jesus
Cristo, é a possibilidade de restauração continua da imagem de Deus que ficou
comprometida e difusa com a entrada do pecado no mundo.
Jesus, “o verbo que se fez
carne e habitou entre nós” (João 1.14), é a maior expressão da imagem de Deus.
Jesus sentiu medo, mas não permitiu que o medo O dominasse (João 12.27); sentiu
angústia e tristeza tão intensas ao ponto de transpirar sangue, mas não
permitiu que elas O imobilizassem (Mateus 26.38; Lucas 22. 41,44); Jesus chorou
(João 11.35); Jesus ficou irado (João 2.13,14). Tenho dito que Jesus entende a
gente, porque Jesus se fez gente como a gente. Se Jesus expressou suas emoções,
por que deveríamos esconder as nossas?
A imagem de Deus em nós pode
ser distorcida de diversas maneiras, inclusive (e em especial) negando e
reprimindo o que sentimos e o que desejamos. O que precisa estar muito bem
claro em nossa mente é que combater o pecado que habita em nós (que insiste em
descaracterizar a imagem de Deus que também habita em nós), não significa negar
as nossas emoções e desejos. A Bíblia não ensina isso. Agir dessa maneira seria
como bem diz o ditado popular, “jogar a água da bacia fora, com o bebê que está
dentro”. Não descaracterize a imagem de Deus negando o que você sente.